Sozinhos... ou acompanhados por nós mesmos :)

Micro, bola prá frente que mulheres (e homens) é que não faltam!
E se aprendeste alguma coisa com a última cabeçada, já não foi tudo perdido, certo?
Há que não perder a coragem! Digo eu, que sou uma medrosa...
Aqui vai um poema do Miguel Torga para animares!

MISSÃO

«Deixem passar...»
Havia sentinelas a guardar
A fronteira do sonho proibido.
Mas ergui, atrevido,
A voz de sonhador,
E passei
Como um rei,
Sem dar mostras de um íntimo terror.

E cá vou, a passar,
Aterrado e sozinho,
A lembrar
O Santo e a Senha com que abri caminho...

MIGUEL TORGA

Há dias em que a solidão me faz bem, gosto de estar sossegada a fazer o meu trabalho ou simplesmente relaxar.

Há outros dias em que a cumplicidade de uma relação me deixa saudades.

Estar sozinho dentro de uma relação é que não me serve.

Ainda não sei o que vou ser amanhã, estamos todos começados e nenhum acabado, logo, o tempo definirá que dose de solidão e companhia eu desejarei ter na minha vida.

A solidão até sabe bem, quando estamos sózinhas. Dá-nos chance para pensarmos no que fizemos, no que fomos e no que queremos ser e fazer.
Ao contrario da solidão quando estamos dentro duma relação, essa sim é mesmo má, porque temos sempre a expectativa de que não estamos sós, quando a realidade é que estamos mesmo sós.

Vale sempre a pena algum tempo sozinhas, e depois há que olhar em frente e seguir.

Um coisa que sempre tive no meu casamento foi os "meus momentos", e sabiam-me tão bem. Tinha os momentos de partilha mas tinha a minha "solidão escolhida". Neste último relacionamento não conseguia sequer estar sozinha e em paz, andava sempre em sobressalto, nunca tinha paz. Agora custa-me a solidão, custa-me bastante... mas não volto a pagar o preço de abdicar da minha serenidade e do meu eu numa relação, é um preço demasiado alto a pagar-se para não estar só.

Slim,

como te compreendo... Eu também não conseguia ter os meus momentos - e preciso tanto deles para a minha sanidade mental! Talvez por ser filha única, talvez porque sempre trabalhei com muita gente e preciso de recarregar baterias...

Durante o tempo em que estive casada, nem era por causa das crianças que não conseguia ter os meus momentos a sós comigo - uma coisa que aprendi é que se formos bem organizados, há tempo para tudo, e até havia. Eu não conseguia por causa do controlo e da desconfiança.

Hoje em dia, o tempo para estar só é tanto... é preciso aprender a viver só sem cair na solidão, o que é uma coisa bem diferente.
Eu acho que ainda não o faço como gostaria, ainda passo muito tempo sozinha a «remoer» pensamentos negativos...

Sempre gostei de estar sozinha... quando me sinto bem comigo.
Quem lida comigo no dia a dia, tem de mim a imagem de uma pessoa alegre, porque sou naturalmente entusiasmada com aquilo que faço e o que me acontece. Mas não é assim que eu me sinto agora e tem sido estranho mostrar aos outros este meu lado mais... desanimado.

Hoje uma pessoa perguntou-me: que cara é essa? O que é que tens?
Surpreendi-me com a minha resposta: estou como sempre, só que agora já não consigo disfarçar.

O que eu preciso é de encontrar um ponto de equilibrio.

Rocana, identifico-me em algumas coisas com a tua maneira de ser.

A questão de remoer sentimentos negativos também ainda me vai acontecendo, é como um raio de um peso que se tráz às costas.

Espero que um dia isso vá desaparecendo.

Eu tenho tentado aproveitar os momentos sozinha e pensar: yupiiiii.... ninguém para me chatear. Por um lado isso sabe-me bem, por outro lado fico a pensar se e quando me vou fartar disso, é que de facto não sou alguem que goste de estar muito tempo sozinha a maior parte do tempo. Por enquanto estou na zona de conforto, mas estou já a planear actividades que possam encher os meus tempos livres.

As pessoas agora já começam a dizer "estás muito melhor", ou "estás com melhor cara" ou coisas afins, e eu acho que estou, acho que me cansei de andar com cara triste, não faz o meu feitio.

Mas há algumas que referem que se vê a falta de brilho que eles tinham.... acho que não disfarço assim tão bem lololo

Mas acho que com o tempo vamos lá, afinal não há mal que nunca acabe, não é, o que importa é que percebamos que estamos a evoluir, ainda que pouco de cada vez, mas que evoluímos e alimentarmo-nos disso.

Se nos primeiros tempos - primeiras semanas - teria sido muito útil ter assim uma espécie de licença de divórcio (tal como existe a licença de casamento) - porque a vida continua e nós precisamos de um tempo nem que seja para chorar, ou para olhar para dentro e definir como é que queremos fazer o nosso caminho de regresso a um estado mais sereno, mas tal não é possível, porque o mundo não pára para nós....
Agora, passados alguns meses, o que me faz falta é girar com o mundo, ocupar o tempo.

Concordo contigo, Sofia, ainda que custe sair da tal zona de conforto, é importante a dada altura começar a encher os tempos livres, como tu dizes, para ocupar a mente com pensamentos diferentes.

Na minha experiência dos últimos meses, já me meti em coisas que até nem têm nada a ver comigo, ando à procura, a experimentar. Onde vivo, não há muita oferta. Não me identifico muito com o que há, mas, ainda assim, as experiências têm valido nem que seja para desanuviar e rir um bocado, o que já é bom.
Recentemente, recomecei a meditar. Já não o fazia há alguns anos. É uma coisa que me faz tão bem, só que até há pouco tempo, simplesmente não tinha vontade. Estou a recomeçar aos poucos, a seguir o meu próprio ritmo.

Quanto ao disfarçar... porque é que temos que andar sempre a fazermo-nos de fortes?

Rocana escreveu:

Slim,

como te compreendo... Eu também não conseguia ter os meus momentos - e preciso tanto deles para a minha sanidade mental! Talvez por ser filha única, talvez porque sempre trabalhei com muita gente e preciso de recarregar baterias...

Durante o tempo em que estive casada, nem era por causa das crianças que não conseguia ter os meus momentos a sós comigo - uma coisa que aprendi é que se formos bem organizados, há tempo para tudo, e até havia. Eu não conseguia por causa do controlo e da desconfiança.

Hoje em dia, o tempo para estar só é tanto... é preciso aprender a viver só sem cair na solidão, o que é uma coisa bem diferente.
Eu acho que ainda não o faço como gostaria, ainda passo muito tempo sozinha a «remoer» pensamentos negativos...

Sempre gostei de estar sozinha... quando me sinto bem comigo.
Quem lida comigo no dia a dia, tem de mim a imagem de uma pessoa alegre, porque sou naturalmente entusiasmada com aquilo que faço e o que me acontece. Mas não é assim que eu me sinto agora e tem sido estranho mostrar aos outros este meu lado mais... desanimado.

Hoje uma pessoa perguntou-me: que cara é essa? O que é que tens?
Surpreendi-me com a minha resposta: estou como sempre, só que agora já não consigo disfarçar.

O que eu preciso é de encontrar um ponto de equilibrio.

É isso mesmo, Rocana, no meu caso também foi o controlo e desconfiança permanentes, andar sempre a abdicar de tudo para não ter chatices. Porque se demorava mais 10 minutos num sítio já tinha uma chamada ou uma sms...enfim

Esse ponto de equilibrio é que acho que custa. Porque acabamos por perder a nossa identidade, e recuperar-nos a nós próprias demora um bocadinho. Mas chegamos la

Sou ainda muito inexperiente nestas andanças, apesar de já estar separada desde inicio deste ano e se tudo correr bem a entrada do processo para divórcio ser efectuado ainda este mês.
Os momentos mais dificieis são aqueles em que estou só, e apesar de ter tido um apoio fantástico de todos os que me rodeiam, a sensação de perda e alguma angústia invadem-me muitas vezes, no entanto acredito que com o tempo vai ficando mais fácil.
Tenho estado a prender a voltar a ser dona do meu destino e além disso já faço alguma bricolage na casa ;-), mas acima de tudo a valorizar-me...
Dizem que o tempo cura tudo... Não dizem é quanto demora...

Luisa e eu digo que o tempo não cura nada se nós nao fizermos por isso....

Rocana escreveu:

Se nos primeiros tempos - primeiras semanas - teria sido muito útil ter assim uma espécie de licença de divórcio (tal como existe a licença de casamento) - porque a vida continua e nós precisamos de um tempo nem que seja para chorar, ou para olhar para dentro e definir como é que queremos fazer o nosso caminho de regresso a um estado mais sereno, mas tal não é possível, porque o mundo não pára para nós....
Agora, passados alguns meses, o que me faz falta é girar com o mundo, ocupar o tempo.

Concordo contigo, Sofia, ainda que custe sair da tal zona de conforto, é importante a dada altura começar a encher os tempos livres, como tu dizes, para ocupar a mente com pensamentos diferentes.

Na minha experiência dos últimos meses, já me meti em coisas que até nem têm nada a ver comigo, ando à procura, a experimentar. Onde vivo, não há muita oferta. Não me identifico muito com o que há, mas, ainda assim, as experiências têm valido nem que seja para desanuviar e rir um bocado, o que já é bom.
Recentemente, recomecei a meditar. Já não o fazia há alguns anos. É uma coisa que me faz tão bem, só que até há pouco tempo, simplesmente não tinha vontade. Estou a recomeçar aos poucos, a seguir o meu próprio ritmo.

Quanto ao disfarçar... porque é que temos que andar sempre a fazermo-nos de fortes?

Rocana, fizeste-me lembrar do meu "início". Eu estava a fazer investigação na faculdade (pelo menos quase não tinha que fazer boa cara a ninguém, tentava ir para o laboratório sempre que ele estava vazio ou quase) e tinha de me concentrar nos protocolos e fazer aqueles trabalhos repetitivos de diluições e pipetagem... para extração de DNA, etc. e fartei-me de ter de repetir amostras porque me custava imenso a concentrar, parecia uma zombie! Fez-me bem falta a"licença de divórcio"...

Eu acho que a necessidade de nos fazermos de fortes vem do não ter de dar explicações a ninguém. Ainda ontem falei disso. Consigo lidar com o meu sofrimento e mantê-lo sob controle, agora ainda ter de dar explicações a outros (ainda que sejam amigos) sobre isso e lidar com os sentimentos das outras pessoas, a desilusão, a revolta, a pena (ou compaixão, se quizeres), dos amigos devido à nossa situação é demais para mim. Por isso faço sempre (ou quase sempre) boa cara, dentro do possível. Só me vou abaixo sozinha!
Manda-me um e-mail para conversarmos!
Bjs!

Luisa Lopes escreveu:

Sou ainda muito inexperiente nestas andanças, apesar de já estar separada desde inicio deste ano e se tudo correr bem a entrada do processo para divórcio ser efectuado ainda este mês.
Os momentos mais dificieis são aqueles em que estou só, e apesar de ter tido um apoio fantástico de todos os que me rodeiam, a sensação de perda e alguma angústia invadem-me muitas vezes, no entanto acredito que com o tempo vai ficando mais fácil.
Tenho estado a prender a voltar a ser dona do meu destino e além disso já faço alguma bricolage na casa ;-), mas acima de tudo a valorizar-me...
Dizem que o tempo cura tudo... Não dizem é quanto demora...

O mais natural é sentirmo-nos mal em situações de perda, mas penso que lá está, o tempo e novas pessoas vão atenuando isso. É realmente um problemaq não saber "quanto tempo" é, mas depende muito da perspectiva que adoptamos: aquilo que perdemos, ou aquilo que ganhámos. Acho que o tempo vai exactamente mostrando que também ganhámos algumas coisas e temos que nos agarrar a isso e largar o que perdemos...

Pá... é tão chato ver isto sinceramente, custa tanto às pessoas e temos a estatística que nos diz que mais de metade das relações dão em divórcio.

Estive a pensar que toda a nossa civilização, cultura e evolução se rodeou de uma estrutura base: a família. O que estamos a assistir é ao desmembramento em massa dessa estrutura que sempre existiu. Que nos trará esta mudança no futuro? Estamos na fase das relações "descartáveis" e "famílias temporárias"? Porque é fácil dizer que continuamos a ser famílias, apenas passamos a ser monoparentais.... mas acho que é um "second best"... ou não?

O que se passa afinal na nossa geração para que a % de divórcios aumente tanto?

A minha formação é económica e lembro-me de me dizerem que a unidade económica base era a família. A família é como uma empresa por comparação. E por comparação ainda, quendo se divide uma empresa há sempre perdas para ambas as empresas e muitas vezes essa divisão de uma empresa acaba com ambas ou com uma delas... A ser correcta a comparação, esta nova tendência de separações não pode ser uma coisa boa na sua globalidade.

Talvez esta onda de separações seja um passo intermédio na nossa evolução como humanos para que se possa perceber que à medida que mudamos e muda o mundo à nossa volta, têm que mudar também a forma como se constroem e alimentam as relações a fim de não termos estas estatísticas de divórcio.

Eu pessoalmente acho que estar divorciada é um second best. Preferia estar numa boa relação, não a tendo, vou aproveitar o que estar sozinha me oferece, mas acho que será sempre o tal "second best" e sinto isso em muitas pessoas separadas.

Desculpem o pensamento, mas calhou pensar nisto.

Tudo é relativo, mas muitas pessoas acabam por descobrir prazer em estar sós nessas circunstâncias.
O problema, se assim se pode chamar, é isso poder ser viciante.

Gostei da definição de "second best".. e, na minha opiniao e experiencia, pode ser um "second best" muiiiito fixe!!!!

O que complica um bocadinho as coisas ao aumentar o grau de exigencia em relacao ao "best" q tem que ser um novo "first best"...

Desculpem lá... hoje deu-me para complicar!!! ehehehe

Sei que com o hábito, começamos provavelmente a apreciar as vantagens de estar sozinho (ou não, eh eh eh). E sem dúvida há coisas muito fixes, mas enfim, para o meu tipo, sempre vivi bem a vida quando estava sozinha e fazia o que me dava na telha.... até me cansar. Isso fez-me perceber que se eu estiver numa relação que que me deixem "ser eu", tudo tem mais valor e é mais gostoso, não tenho a sensação de "não vivi isto... não fiz aquilo...)

Acho que depende muito da maneira de ser de cada um.

Concordo contigo que estipular novos padrões e exigências para um novo "first best", também devido à idade e experiências passadas, se torne difícil.

Mas lá diz o povo que o casamento é uma carta fechada, e tem muita razão. Por isso, temos que andar com os olhos bem abertos lolol.

Mas sinceramente não me vejo com 80 anos sozinha.... cruzes credo!!! Ainda dou por mim a dissertar para as paredes....

Epa.. com 80 anos sozinhos? Naaao!!!

Queria ver se descobria a "first best", pelo menos a tempo, de ainda a poder... "usar" um bocadinho.. ehehehhe

Nunca me senti sozinho e se o disse-se estava a ser injusto, só o meu filho já me preenche quase a 100% ( estou com ele diariamente porque vivo pertinho dele e o meu horario de trabalho dá para o fazer, almoça quase sempre comigo e quando a mãe entra muito cedo no trabalho ele dorme em minha casa, sou um pai presente e adoro ), sempre tive amigos e amigas bem como a minha familia sempre presente na minha vida. Hoje depois de ter terminado o meu relacionamento sinto-me mais acompanhado como nunca , os meus momentos sozinhos é mesmo só quando me apatece estar comigo mesmo. Tenho sempre muita coisa que fazer acompanhado , desde desporto , tomar conta do meu filho , ao fim de semana ainda ajudo as minhas amigas mães solteiras para lhes levar os filhos ao futebol , á piscina, cinema ou a outro lado que quer que seja , tenho também uma afilhada que me dá que fazer ....... Muitas vezes tenho lá em casa os meus amigos e amigas a jantar em casa e aqui o chef é que tem quase o trabalhinho todo.......Agora que estou solteiro é que tenho estas ocupações todas que as faço com todo o gosto. Muita gente não se sente sozinha sente é um vazio e sente-se um pouco perdida na vida e daí sentir-se sozinha.

Não tenho medo de nada,só tenho medo de tudo
Sou um merdas.Hoje, desde que acordei,comevi-me com toda a especie de repetições. Se nesta casa coubesse uma máquina de costura como a da minha mãe,aquelas rajadas cíclicas de metrelhadora,creio mesmo que tinha chorado.
Hoje, ao contrário de sempre, parece-me que há mais verdade no pessimismo dos velhos do que no optimismo dos adolescentes.Contra isto, acabei de fazer a barba. Não resultou. Utilizei o pincel para espalhar o creme, utilizei uma lâmina de barbear nova,tenho a pele lisa e morna, mas não resultou.
Nunca gostei de dizer à minha ex-mulher pelo facto de a pessoa em questão não ser ex-nada, ela continua a ser o que é e,hoje, até seja bastante mais do que era quando perto de mim.
É justo que mude de parágragrafo para explicar que, da mesma maneira,não gosto de dizer «as minha ex-namoradas»(não as contei).Neste caso,creio que a expressão induz um numero enganadoramente elevado.Já estive em vários lugares, mas a primeira vez que, como homem, me aproximei de uma mulher aconteceu quando já estava na idade adulta. Antes disso dedicava-me em exclusivo à bola e ao heavy metal.
Foi em Cabo Verde,que aprendi a expressão «mães dos meus filhos». É a mais correcta.Não apenas porque tem a palavra«mãe»,algo que elas são de forma infinita, mas também porque não nomeia aquilo que são para mim, o que é certo, uma vez que aquilo que são para mim não tem nome, existe no meu interior e, lá tem todos nomes impossíveis de gratidão absoluta e do afecto indelével e absoluto.
Mudando outra vez de parágrafo, não tenho nada para chamar às pessoas com quem tive algo, nem sequer tenho palavras para esse«algo».Aquilo que sei com certeza é que, a haver um ex-qualquer-coisa, esse ex-tudo só posso ser eu.
Quando tive uma namorada que fazia investigação, eu era, por contraste, o artista excêntrico, o idealista. Quando tive uma namorada semiaristocratica, eu usava pólos e, se o entardecer ficava fresco, deixava que ela me pousasse um pullover verde-escuro nas costas. Quando tive uma namorada de Chelas,começei a usar expressões como «aguenta-te à bomboca» ou « o teu cota é bué corta-feelings». Quando tive uma namorada que, se fosse preciso,ficava duas horas a contemplar uma paisagem óbvia e que parecia que estava sempre com uma ligeira moca de erva ou bêbada de champanhe, eu era, de novo por contraste, o stressado, o gajo que só falava do IRS e da Segurança Social.
Esta numeração poderia continuar com muita facilidade.É melhor pará-la porque, hoje as repetições têm-me comovido desde que acordei. Por norma, sei onde estão essas mulheres que têm nomes, não sei onde estão os seus pais,irmãos e outras figuras que se dissiparam como nevoeiro. Não sei o que fizeram às fotografias que tiramos juntos. Sei que alguns dos seus namorados actuais me odeiam com ódio mesmo. Mas nada disso é demasiado importante.Hoje, agora, barba feita e inútil, apenas quero dizer que, em vez de tudo isso,gostava de ter a coragem de ser como aquele americano que há dois/três anos conheci em Haia, na Holanda. Desde a hora que fomos apresentados, ele sentiu uma ternura instantânea e evidente por mim, uma ternura paternal, que aceitei. Era de noite,caminhavamos pelas ruas desertas de Haia, chovia um véu que nos cobria a cara.Ele passava dos sessenta anos, eu ainda não tinha trinta, falava-me dos filhos que já eram homense lhe telefonavam duas ou trés vezes por ano, falava-me da solidão.Disse que estava sozinho. Quando lhe perguntei o motivo pelo qual não procurava companhia, respondeu que não queria fazer mal a mais ninguém.Essas palavras ficaram-me, ouço-as muitas vezes. Nessa noite, enquanto passeávamos, o americano tropeçou e caiu com muita violencia no chão, as mãos escorregaram-lhe quando ia para amparar a queda. Tentei ajudá-lo a levantar-se, recusou. Perguntei-lhe se devia chamar uma ambulância,recusou. Disse-me que só queria ficar deitado durante em instante. E assim foi. Ficou deitado no passeio, de barriga para cima, de olhos fechados,com a chuva a cobri-lo. Eu baixei-me e fiquei ao seu lado. Durante um instante, no silêncio, dentro da dor ouve paz.

Podemos sem duvida estar sozinhos acompanhados e penso que terá sido essa situação que ditou para muitos de nós a decisão de um fim ou pelo menos o não sentirmos tanto a falta desse outro/a.
Passados três anos dessa decisão, sozinha nese sentido, continuo a não ter qualquer duvida de que foi a atitude correcta, não tenho quem me receba em casa mas antes o chegar a casa era uma angustia. Aprendi a olhar mais para mim, a valorizar-me a olhar para quem está à minha volta e para a importância que essas pessoas têm na minha vida, passei a ser menos egoísta, antes o meu pensamento estava apenas focado naquela relação e no meu adiar constante numa decisão que era inevitável. Procuro ocupar o tempo com n coisas, já fiz um fim de semana sozinha e sai-me muito bem fiquei orgulhosa de mim, é para repetir.Sinto no entanto que falta algo mais,tudo o que me esforço por fazer é uma tentativa de ocupar o tempo e mente, felizmente tenho muito trabalho o que facilita, mas há sempre aquele momento em que falta alguém especial .Penso que para quem tomou desde cedo a decisão de não querer compromisso é mais fácil viver assim mas para nós por mais que se diga que nos cansámos de amarras, não sei,acho que nos tentamos convencer já que não está só nas nossas mãos a solução. Depois há aquelas pessoas simpáticas que com frequência nos interrogam sobre uma eventual companhia e concluem...mas tens de arranjar alguém... como se fosse algo que se comprasse no supermercado.
Tal como disse a Nocas...podemos ser felizes sem esse alguém...ou talvez não

Conseguiste comover-me RGomes.Espero sinceramente que esse sorriso rasgado no sol radioso que escolheste para te representar corresponda ao teu espírito e que hoje seja apenas um daqueles dias que nos permitem olhar com um grande sorriso para todos os outros.
Amanhã é um novo dia .

Ninguém está melhor sózinho. As pessoas que o dizem mentalizaram-se para isso! Porque têm medo de acreditar de novo e depois...
Eu acho que é melhor arriscar a ter nada... a todos os dias serem iguais!
RGomes estás num estágio mais acima! Já "cresceste"! Parabéns por essa maturidade!!

RGomes escreveu:

Não tenho medo de nada,só tenho medo de tudo
Sou um merdas.Hoje, desde que acordei,comevi-me com toda a especie de repetições. Se nesta casa coubesse uma máquina de costura como a da minha mãe,aquelas rajadas cíclicas de metrelhadora,creio mesmo que tinha chorado.
Hoje, ao contrário de sempre, parece-me que há mais verdade no pessimismo dos velhos do que no optimismo dos adolescentes.Contra isto, acabei de fazer a barba. Não resultou. Utilizei o pincel para espalhar o creme, utilizei uma lâmina de barbear nova,tenho a pele lisa e morna, mas não resultou.
Nunca gostei de dizer à minha ex-mulher pelo facto de a pessoa em questão não ser ex-nada, ela continua a ser o que é e,hoje, até seja bastante mais do que era quando perto de mim.
É justo que mude de parágragrafo para explicar que, da mesma maneira,não gosto de dizer «as minha ex-namoradas»(não as contei).Neste caso,creio que a expressão induz um numero enganadoramente elevado.Já estive em vários lugares, mas a primeira vez que, como homem, me aproximei de uma mulher aconteceu quando já estava na idade adulta. Antes disso dedicava-me em exclusivo à bola e ao heavy metal.
Foi em Cabo Verde,que aprendi a expressão «mães dos meus filhos». É a mais correcta.Não apenas porque tem a palavra«mãe»,algo que elas são de forma infinita, mas também porque não nomeia aquilo que são para mim, o que é certo, uma vez que aquilo que são para mim não tem nome, existe no meu interior e, lá tem todos nomes impossíveis de gratidão absoluta e do afecto indelével e absoluto.
Mudando outra vez de parágrafo, não tenho nada para chamar às pessoas com quem tive algo, nem sequer tenho palavras para esse«algo».Aquilo que sei com certeza é que, a haver um ex-qualquer-coisa, esse ex-tudo só posso ser eu.
Quando tive uma namorada que fazia investigação, eu era, por contraste, o artista excêntrico, o idealista. Quando tive uma namorada semiaristocratica, eu usava pólos e, se o entardecer ficava fresco, deixava que ela me pousasse um pullover verde-escuro nas costas. Quando tive uma namorada de Chelas,começei a usar expressões como «aguenta-te à bomboca» ou « o teu cota é bué corta-feelings». Quando tive uma namorada que, se fosse preciso,ficava duas horas a contemplar uma paisagem óbvia e que parecia que estava sempre com uma ligeira moca de erva ou bêbada de champanhe, eu era, de novo por contraste, o stressado, o gajo que só falava do IRS e da Segurança Social.
Esta numeração poderia continuar com muita facilidade.É melhor pará-la porque, hoje as repetições têm-me comovido desde que acordei. Por norma, sei onde estão essas mulheres que têm nomes, não sei onde estão os seus pais,irmãos e outras figuras que se dissiparam como nevoeiro. Não sei o que fizeram às fotografias que tiramos juntos. Sei que alguns dos seus namorados actuais me odeiam com ódio mesmo. Mas nada disso é demasiado importante.Hoje, agora, barba feita e inútil, apenas quero dizer que, em vez de tudo isso,gostava de ter a coragem de ser como aquele americano que há dois/três anos conheci em Haia, na Holanda. Desde a hora que fomos apresentados, ele sentiu uma ternura instantânea e evidente por mim, uma ternura paternal, que aceitei. Era de noite,caminhavamos pelas ruas desertas de Haia, chovia um véu que nos cobria a cara.Ele passava dos sessenta anos, eu ainda não tinha trinta, falava-me dos filhos que já eram homense lhe telefonavam duas ou trés vezes por ano, falava-me da solidão.Disse que estava sozinho. Quando lhe perguntei o motivo pelo qual não procurava companhia, respondeu que não queria fazer mal a mais ninguém.Essas palavras ficaram-me, ouço-as muitas vezes. Nessa noite, enquanto passeávamos, o americano tropeçou e caiu com muita violencia no chão, as mãos escorregaram-lhe quando ia para amparar a queda. Tentei ajudá-lo a levantar-se, recusou. Perguntei-lhe se devia chamar uma ambulância,recusou. Disse-me que só queria ficar deitado durante em instante. E assim foi. Ficou deitado no passeio, de barriga para cima, de olhos fechados,com a chuva a cobri-lo. Eu baixei-me e fiquei ao seu lado. Durante um instante, no silêncio, dentro da dor ouve paz.

RGomes, fiquei sem palavras.
E tenho que mudar de parágrafo para te dizer: Obrigada!

As tuas palavras dão que pensar...

Muito emocionante. Estou sem palavras...

analu escreveu:

Ninguém está melhor sózinho. As pessoas que o dizem mentalizaram-se para isso! Porque têm medo de acreditar de novo e depois...
Eu acho que é melhor arriscar a ter nada... a todos os dias serem iguais!
RGomes estás num estágio mais acima! Já "cresceste"! Parabéns por essa maturidade!!

Tb o acho ....mas.

Quero apenas um bocado de tempo para poder descansar esse peso do mundo que estou sentindo aos ombros... Um tempo onde não me perguntem nada, nem me peçam nada, apenas me permitam o direito de dar vazão ao que venho engolindo com o café-da-manhã ,enquanto visto a máscara de "olhem como sou valente e forte"....
Quero ser a criança que pode chorar livremente até que me ponham no colo, restabelecendo assim, o equilíbrio que necessito para dormir em paz.
Quero me aventurar na busca dos sonhos, sem ter que vê-los pintados com as cores do desânimo, ou coloridos com as cores do impossível... e quero poder brincar com meus sonhos como se fosse plasticina de modelar ilusões.... usar os meus dedos, até decidir quando precisam se desfazer ...
Quero ter companheirismo também nas horas em que tudo se parece ter perdido, e encontrar apenas um ombro onde possa repousar meu cansaço, um ombro que seja silêncio e carinho.
Quero deixar que me invada toda a dor do mundo neste instante, porque ela é minha, real e única, e que como tal, seja aceita e compreendida... mesmo que eu ainda não saiba lidar com ela ...
E quero poder dizer :
- Sim, está doendo sim !
Sem assustar ninguém, causando uma revolução tão grande que o meu mundo pareça ainda mais desabitado . Seria possível?
Daqui a pouco tudo vai parecer diferente e novo, eu sei. Vou secar os olhos e vou à luta outra vez e da dor hei de ressurgir mais forte... Porque sou de noventa e nove por cento matéria que dificilmente se desintegra.
Então, por favor , por um momento apenas, neste meu pequeno momento humano, neste "por cento" de fragilidade, quero ser igual a todo mundo...

e depois desse "por cento", toma as rédeas do teu cavalo e desbrava novos caminhos, sem medo...