Os filhos são parte da família, não são a família

No último jantar, tive uma conversa muito interessante com alguém acerca dos filhos e do papel que eles desempenham na família, existindo como sabem, casos de famílias em vias de reconstituição ou de tentativa de reconstituição no fórum.

Este tópico é reflexão sobre alguns dos problemas que esses casos enfrentam actualmente e de como os filhos podem ser o maior entrave ou mesmo impossibilitar essas reconstituições. Diz-se muitas vezes que é preciso dar tempo ao tempo, ter paciência. Mas há situações em que a paciência e o tempo são os piores inimigos, porque apenas consolidam os erros cometidos.

Esta é uma reflexão pessoal após algumas conversas com pessoas aqui do Fórum

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Como algumas pessoas sabem, a minha ex, na fase final do casamento, foi trabalhar para o estrangeiro, ficando eu com os 3 filhos.

Após 1 século de lutas feministas, esta situação era a quinta essência da igualdade entre homens e mulheres, com a troca dos tradicionais papeis de cada um no casamentos e na vida, pelo que sempre imaginei que as reacções seriam tanto mais negativas quanto mais velhas fossem as mulheres, dado elas terem sido criadas noutros tempos onde o papel da mulher era muito diferente do actual.

Enganei-me e enganei-me muito, como já me enganei em muitas outras situações na vida.

O padrão das reacções foi o seguinte:
As mais novas com filhos pequenos (até aos 30/35) foram fundamentalistas na recusa,
As de 30/45 anos com filhos na pré-adolescência ou na adolescência, tiveram uma reacção mista: Entre o “Também quero um marido assim” e o “Não sei se seria capaz” passando pelo “quem me dera”
As mais velhas, geralmente já com os filhos fora de casa, foram a grande surpresa: “Vai, não sejas burra, os filhos ficam bem com o pai, daqui a uns anos saem de casa e tu perdeste a tua oportunidade”

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Sendo geralmente as mulheres que ficam com os filhos, são elas ficam numa posição mais desconfortável, ficam com mais encargos (a PA não paga 50% de tudo), ficam com mais trabalho, ficam com menos liberdades e ficam com mais dificuldades em refazer a vida, porque passam a ser um package, 2 em 1 ou 3 em 1).

Rapidamente ficam cansadas do excesso de trabalho, das responsabilidades, da falta de ajuda, dos orçamentos curtos demais e dai às cedências aos caprichos dos filhos é um passinho.

De cedência em cedência, os filhos transformam-se em tiranetes habituados a que tudo gire à sua volta, a ter a atenção da mãe quando querem e lhes apetece, olhando para a mãe quase como uma criada à sua inteira disponibilidade.

Cada ordem é discutida, recusada, torpedeada, porque sabem que no fim, ganham sempre e se não resultar, uma birra trata do assunto.

Quando a situação se prolonga e eles chegam à pré adolescência ou à adolescência (9/11 anos), nem sequer aceitam que a mãe possa refazer a sua vida, fazendo-a sentir-se culpada ao dizerem egoisticamente: Agora já não tens tempo para nós. Se antes a mãe era uma criada, agora exigem a exclusividade.

Por tudo isto, eles acham (e ninguém lhes mostrou o contrário) que estão no centro da família em pé de igualdade com a mãe e que esta lhes deve explicações. Ela já deixou de ser a mãe, passou a ser a sua criada pessoal.

Após 1 século de lutas feministas, as mulheres deixarem de serem criadas dos maridos, para se tornarem criadas dos filhos.

Para as que ainda lá não chegaram, a questão é: é isto que pretendem para o vosso futuro?

Se não é, então cada ordem e para ser obedecida de imediato com tolerância zero. Uma ordem é para ser obedecida, deve ser pensada antes e poderá ser explicada depois, mas nunca justificada e muito menos permitir o “back talk”, permitir que os filhos discutam, o “já vai”, o “não quero”.

Para as que já lá estão, não se iludam, não se muda uma situação destas sem dor, sem choros, sem acusações mesquinhas por parte deles. Eles têm de compreender que são parte da família, não são a família e se não o entenderam, criámos apenas mais uns miúdos mimados e birrentos.

Permitirem isto, condena-vos a uma vida de criada, de solidão, entremeada com casos pontuais condenados ao fracasso, porque poucos homens estão dispostos a aturar os filhos dos outros e muito menos, os filhos birrentos dos outros.

Sei que a maioria das mulheres não se apercebe do erro brutal que está a cometer. Porquê? Por todas as razões... porque querem ser as melhores mães do mundo, porque não querem ser acusadas de "virarem as costas ou desleixarem os filhos", porque fazer dos filhos o centro do seu mundo é também uma forma de amenizar a dor que vai dentro delas, porque a sociedade quase exige esse comportamento... E depois, quando os filhos atingem a adolescência... aí já ninguém consegue perceber onde foi cometido o erro... foi há muito tempo e durante muito tempo...

Nessa altura, as acções para inverter e quebrar esta situação, acabam por ter que ser mais "brutais" porque não são progressivas e porque a idade já é outra.

O que define a nossa vida não são os nossos talentos, são as nossas escolhas Escolher proteger os filhos a todo o custo, criando uma redoma de vidro à sua volta, como se a vida fosse um conto de fadas sem dor, não são escolhas de pais responsáveis.

Criar uma criança é prepará-la para a vida e essa preparação implica também mostrar-lhes o lado negro desta vida e as diversas formas de gerirem a dor. Cedo ou tarde, eles terão de enfrentar essas dores e são elas que nos ensinam, que nos fazem crescer. Esconder-lhes a dor, condena-os a serem umas eternas crianças que julgam que uma birra tudo resolve e se não resolver, fogem porque incapazes de lidar com situações que não gostam.

Lembram-se da história das mulheres mais velhas do principio do tópico? Eles cedo ou tarde vão-se embora e apenas ficará o vazio

Just,

A tua reflexão é arrepiantemente verdadeira...

É, neste momento, a minha maior luta interna... como vou conseguir fazer aquilo que eu já percebi ser o correcto?

Muitas (os) ainda nem perceberam o erro que estão a cometer...

É esse o meu objectivo: Que a minha filha e o filho do meu companheiro sejam parte da família e não o centro dessa família!

mbprincesa escreveu:

É, neste momento, a minha maior luta interna... como vou conseguir fazer aquilo que eu já percebi ser o correcto?

Ou fazes ou provavelmente acabará por não haver família ou então será uma luta desgastante no dia a dia até terminar como todos já conhecemos

Bem eu já me apercebi faz tempo. A questao aqui é que quando tomamos uma decisao é dificil vermos se é a mais correcta. E todos aqui tambem cedemos por vezes por comodidade propria. E mais... Todos nos ja pensamos, Se nao o mimarmos agora... nao sera quando tiver 15 anos... E pimba vai de errar de novo.

Eu, quando tinha a idade do meu filho, nao tinha tudo o que queria. Mas tinha tudo o que precisava. E nesses aspecto faço igual .
Agora é muito complicado levar uma "reeducaçao" em frente quando a criança tem pai e mae separados. Principalmente se uma parte nao admite essa necessidade.

Just... excelente o topico e a reflexão....

Um problema muito comum nos dias de hoje... Mas tambem ja vi homens cairem nessas asneiras...

Citação :

O que define a nossa vida não são os nossos talentos, são as nossas escolhas Escolher proteger os filhos a todo o custo, criando uma redoma de vidro à sua volta, como se a vida fosse um conto de fadas sem dor, não são escolhas de pais responsáveis.

Não podia estar mais de acordo....

So que aleado a este problema existe tambem o inverso... a vejo nas escolas... os tais filhos mimados... centro das atenções dos pais... e ou outros... os que andam a reboque das constantes viragens das vidas dos pais...


O equilibrio é fundamental... Não se devem guardar numa redoma... Mas tambem não devem ser demasiado expostos... O tempo de infãncia deve ser isso mesmo...

Obriga-los a crescre demasiado rapido tambem é uma crueldade... Lá está... O equilibrio...

@Just

Eu também estou no mesmo dilema. Sei perfeitamente que tens razão, mas ao mesmo tempo quero aproveitar ao máximo o tempo que estou com elas e, por vezes, cedo quando não devo ceder.

É uma luta constante entre o que está certo e aquilo que é o mais fácil. Nem sempre acertamos, por vezes só vemos a burrada muito tempo depois. Mas no final, a verdade é que aquilo que fizemos agora é que irá moldar o caracter e a resiliencia face aos problemas dos nossos filhos.

jbsn:

E atenção porque o just diz e com toda a razão... um dia mais tarde, quando quiseres reconstruir a tua vida com outra pessoa é que vais perceber os problemas que criaste a ti e a elas...

@mbprincesa

Isso também eu sei. Não estou nessa fase, nem procuro como sabes, mas já ouvi a mais velha a tentar condicionar-me com isso (e acho que disse o mesmo à mãe).

Claro que, de forma diplomática, ouviu que "não tem nada a ver com isso" já que isso nunca iria condicionar o amor que tenho por elas.

Para tudo é preciso ter formação, menos para aquilo que é mais importante: Ser Pai e Mãe! Isto é um aprender constante...

Jbsn, tambem seria uma chatice se houvesse cursos ou outros....
Tem que ser assim. Ir fazendo e errando. Ouvir conselhos e ser racional....

Mas acredita que tudo o que fizeres nesta fase de "luto" vai condicionar o teu "futuro".

Jbsn,

pois é... mas acredita... aprender com os erros dos outros acho que é forma mais eficaz de aprendizagem que temos ao nosso alcance no que a este assunto diz respeito...

fsonecas escreveu:

Mas acredita que tudo o que fizeres nesta fase de "luto" vai condicionar o teu "futuro".

Ouve o homem que é a experiência a falar

@mbprincesa e fsonecas

Eu estou aqui mesmo para aprender. Com a experiência e os conselhos de todos. E de vós, principalmente, porque muito me ajudaram a fazer o clique e a reabrir-me para o mundo!

Just escreveu:

mbprincesa escreveu:

É, neste momento, a minha maior luta interna... como vou conseguir fazer aquilo que eu já percebi ser o correcto?

Ou fazes ou provavelmente acabará por não haver família ou então será uma luta desgastante no dia a dia até terminar como todos já conhecemos

é esse o meu medo... e estou disposta a aprender com os outros e com o que já passei para que nada disso aconteça!

jbsn escreveu:

@mbprincesa e fsonecas

Eu estou aqui mesmo para aprender. Com a experiência e os conselhos de todos. E de vós, principalmente, porque muito me ajudaram a fazer o clique e a reabrir-me para o mundo!

Just muito bom, ate arrepia a verdade do teu texto.
Eu por acaso tenho muita sorte, pk as minhas miudas são as proprias a dizerem-me que devo ter um namorado pois já estou a muito tempo sozinha são uma maravilha.

Quando estiver preparada para dar esse passo sei que elas irão reagir bem.

Babalu... mas atençao que uma coisa é dizerem outra é aceitarem....
É que dentro do coraçao delas vai haver novos sentimentos e novos "dados" para analise....

Foi sentido Sonecas, elas querem o meu bem. Quando um dia acontecer, se acontecer logo verei, não vale a pena sofrer por antecipação, e se elas dizem acredito e confio assim como elas acreditam e confiam em mim.

Até estou arrepiada!

Pois...estou divorciada há 7 anos...a minha filha tem 10 anos e eu ter namorado é um verdadeiro tormento para ela. O pai pode e deve ter! Eu não! Pois já a tenho a ela! Simples!

@Lost

Pois, é isso mesmo que eu tento agora contrariar, aproveitando o facto de ser tudo muito recente e de, efectivamente, não haver nada no meio... Prefiro enfrentar agora esta situação que depois estar a lamentar.

Este tópico para mim irá ser uma grande fonte de aprendizagem!

Lost,

que simples é na cabeça dela, não é? A mãe é dela! e ponto não há mais conversa!

Mas o que o just disse está certissimo! Mesmo que eu ache que estou correcta, os outros criticam! E acabo por me sentir culpada! E então...vou deixando andar...

é o nosso maior erro... deixamos andar... ou porque não queremos ouvir as criticas, ou porque estamos cansadas, ou por um milhão de outros motivos.....

Princesa, é que para ela não há mais conversas mesmo!

E faz-me a vida negra! Esse é o meu verdadeiro drama! LOL

Eu, deixo andar...porque isso me esgota!

Lost escreveu:

Princesa, é que para ela não há mais conversas mesmo!

E faz-me a vida negra! Esse é o meu verdadeiro drama! LOL

Medo a minha filha tinha 3 anos quando me divorciei.... já estou a ver....